Uma novela de Manoel Carlos no horário nobre é sempre um clássico. E
ontem entrou em cena o primeiro capítulo, do que parece ser mais um
grande clássico desse mestre da tele-dramaturgia brasileira. Em Família é
a nova novela das nove da Rede Globo de Televisão, vendida como a última
novela do já idoso autor.
Maneco, com sua indefectível Helena, suas
trilhas bossa-novistas e mpbísticas e seu onipresente bairro do Leblon,
enche muitos de expectativas em sua última incursão no horário nobre,
com seus dramas amorosos, familiares e sociais, sempre tão bem conduzidos
por sua mente experiente e cheia de delicadezas. Há quem não goste e
torça o nariz para a narrativa morosa e extremamente detalhada do autor,
mas com seu estilo sofisticado e naturalista, acompanhado de grandiosos
diálogos, sempre com campanhas sociais eficientes e uma sensibilidade
aguçadíssima, ele consegue arrebatar uma multidão de fãs apaixonados por
seu tão peculiar estilo. E vamos combinar que depois de uma novela de
roteiro sofrível, com diálogos paupérrimos e quase idiotizantes como Amor à Vida, ter Maneco e seu texto caprichado ocupando a faixa é um verdadeiro refrigério.
No capítulo de estreia acompanhou-se o que Maneco faz de
melhor. Com a direção eficiente e agradável de Jayme Monjardim,
começamos a ver a saga de Helena desde bem jovem. Num cenário bucólico e
cercado de belezas naturais, no interior de Goiás, Helena (Júlia
Dalavia), então com seus 12 anos, inicia um namorico com o possessivo
primo Laerte (Eike Duarte). Os dois fazem juras de amor eterno e até um
pacto de sangue. O grupo infanto-juvenil é composto por Helena; Laerte;
Virgílio (Arthur Aguiar / o melhor amigo de Laerte e secretamente
apaixonado por Helena); Shirley (Giovanna Rispoli / a demônia da vez,
falsa amiga de Helena, mimada e invejosa); Felipe (Vinni Mazzola) e
Clara (Luana Marquezine), irmãos de Helena. Sempre juntos, eles curtem a
natureza do lugar, andando de jipe e tomando banhos de cachoeira; é num
desses banhos que acontece uma cena emblemática: sozinha no rio, Helena
começa a se afogar e, ao pedir ajuda a Shirley, a menina finge buscar
socorro chamando os garotos que se embrenharam no mato, mas fica de
longe vendo a "amiga" gritando por socorro até ser tirada da água pelos
demais que escutam seus gritos. Por esta cena já temos uma noção do que
será a vilã da vez, vivida pela sensacional Vivianne Pamanter na fase
adulta. Ainda nesta primeira fase vemos uma procissão tomar conta das
ruas da pequena cidade de Esperança, cena que me remeteu à Felicidade,
primeira novela de Manoel Carlos que assisti e que foi ao ar em 1991, às
18 horas, também a única dele que me lembro de ter tido grande parte de
sua história ambientada no interior de um estado fora do Rio de
Janeiro, neste caso Minas Gerais, na fictícia Vila Feliz.
Helena
e Laerte se amam, mas vivem às turras, sempre brigando feito cão e gato
por causa do ciúme exacerbado do rapaz. Então, logo após Laerte
presentear seu amor com uma medalha da Fênix (o pássaro mitológico) e
discutir com Helena momentos depois por mais uma cena de ciúme, temos a
clássica cena do mergulho (dessa vez em uma piscina) que serve pra
marcar uma passagem de tempo. Aí vemos a linda Bruna Marquezine (Helena)
emergindo para a segunda fase junto com Guilherme Leicam (Laerte).
Nesta
segunda fase Laerte parece estar mais possessivo do que antes e Helena
mais abusada e provocativa. Sabendo o gênio do namorado/primo, ela
também não alivia, adora cutucar a onça com vara curta. Os dois já estão
noivos e praticamente de casamento marcado, mas depois de ficar nua sem
querer na frente do marido de sua tia e explanar o acontecido pra toda a
família, inclusive diante de Laerte, em tom descontraído, eles tem mais
uma briga feia onde Helena ameaça terminar tudo.
O capítulo se encerra com uma mini-história bem bonitinha e
emocionante intitulada "Momentos Em Família", o que parece que vai
acontecer no encerramento de todos os capítulos. Ideia diferente, se comparada com às duas últimas novelas de Maneco, Páginas da Vida e Viver a Vida,
que encerravam os capítulos com depoimentos de pessoas anônimas
contando sobre algum drama pessoal e sua superação, mas com a marca
indelével de seu autor.
A abertura também me pareceu pouca
coisa diferente das anteriores, mas bonita, embora simples, onde uma
árvore com fotografias penduradas dos personagens vão se desprendendo ao
vento como folhas. Uma clara representação da genealogia familiar, ao
som da clássica e sempre bela Eu Sei Que Vou Te Amar, na voz de Ana
Carolina.
Perceberam como a palavra clássico(a) foi citada
diversas vezes nesse texto? É porque o bom e velho Manoel Carlos não
abre mão dos saborosos ingredientes com que tão bem ele prepara suas
receitas de sucesso, e já que essa é a sua declarada última novela, melhor não mexer em time
que por tantas vezes ganhou soberanamente.
E, convenhamos, depois de tantas inovações
nas novelas do horário, como o uso de película de cinema, ritmo de seriado e uma
agilidade alucinante já estávamos com saudade de um novelão clássico. Que Em Família nos conquiste e nos acompanhe durante os próximos meses, com o bom gosto que nos prometeu em seu primeiro capítulo.
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Esdras Bailone: leonino, romântico, sonhador, estudante de letras, gaúcho de São Paulo, apaixonado-louco pelas artes e pelas gentes.
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